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Adriano Silva

Você está inseguro em relação ao seu lugar no mercado de trabalho?

Adriano Silva

14/06/2019 09h56

 

Tem momentos na vida em que a gente sente medo da segunda-feira.

A ansiedade mira já na semana seguinte. Nada está garantido para você. Tudo está por construir. Você está nadando contra a correnteza, engolindo um bocado de água, tentando achar seu lugar no mundo. A inércia está posta contra você. Todo dia é uma luta renhida.

Costuma ser assim que quando se está começando algo. São as dores de nascer. Você precisa se provar. Precisa mostrar que o seu projeto faz sentido. A continuidade do ato mero de existir se reveste de angústia. Seu principal desafio é continuar vivo. Chegar até o final da próxima semana com energia suficiente para seguir esmurrando a muralha que se ergue diante de você, com os tijolos daquilo que já está estabelecido. Você é o novo entrante. O mundo parece agir em conluio contra você.

Sobre medo, ansiedade, depressão, síndrome do pânico – essas coisas que só acontecem com os outros

Isso vale para quem está tirando um negócio do papel. Mas também para quem está estreando num emprego novo. Tudo o que você tem é uma aposta. O seu lastro é apenas uma visão ou uma vontade. Seu castelo está todo erigido sobre ar rarefeito.

Quem consegue superar essa fase (que às vezes acontece muito mais dentro da cabeça e do coração da gente do que no mundo real) vai lentamente construindo uma rede de proteção debaixo de si. Então você já não está tão perto de cair e esfregar o rosto no asfalto.

A montanha-russa vai abrindo espaço para um caminho mais plano. A roleta-russa é substituída por um jogo de tabuleiro. Um eventual tropeço já não parece representar a sua morte imediata.

Você vai vencendo a inércia e, aos poucos, achando um lugar no mundo. Nem sempre esse lugar tem o tamanho que você quer. Nem sempre ele está onde você imaginou. Mas você já não está por um fio. A próxima semana já não é um desafio tão grande – você sabe que, de alguma forma, chegará vivo até a próxima sexta-feira. A sobrevivência no curtíssimo prazo está garantida. Você já não tem crises de pânico no meio da madrugada, ao considerar a agenda do dia seguinte, ou os compromissos financeiros que vencem depois de amanhã.

Esse é o momento em que o medo da gente passa a mirar no próximo trimestre.

O risco é jogado mais para frente. A questão agora é chegar vivo ao final do ano. Você já tem sinais concretos de que tem chances reais de dar certo naquilo que está fazendo. Não se trata mais apenas de um plano ou de um desejo.

No empreendimento, você já tem os primeiros clientes, já emitiu algumas notas fiscais, já está na batalha de entregar bem o que vendeu. No emprego, você já participou de reuniões bem-sucedidas, já se enxergou de modo positivo nas retinas de chefes, pares e subordinados. Você já está encontrando encaixe naquele ambiente. Os momentos de taquicardia ou de insônia vão ficando para trás.

É quando o medo da gente passa a mirar no ano seguinte.

O presente exercício está encaminhado. No empreendimento, você já tem alguns contratos mais longos. Que lhe garantem sobreviver no curto prazo. Você já sabe o que precisa fazer para satisfazer seus clientes. Eles não estão mais lhe testando. No emprego, idem, você já encontrou seu lugar. Já foi aceito e reconhecido. Já realizou as primeiras entregas bem-sucedidas. Uma sensação boa de segurança começa a surgir. Algumas atividades começam a se repetir. Você passa a ter uma rotina de tarefas conhecidas, de desafios razoavelmente dominados.

No entanto, seus clientes e demais interlocutores passam a exigir mais de você. A esperar que você continue crescendo, avançando, melhorando. A questão passa a ser como se preparar para continuar relevante no próximo ciclo de mercado, num fluxo acelerado pelas mudanças nas tecnologias disponíveis e nos hábitos dos consumidores.

A cada três anos – no máximo cinco, em indústrias mais protegidas, onde a mudança acontece de modo mais lento – você terá que reaprender boa parte daquilo que sabe, e se iniciar em novas ferramentas que não existiam até ontem, e esquecer vários dos axiomas que garantiram o seu sucesso no ciclo anterior, de modo a poder absorver novos conhecimentos fundamentais à sua sobrevivência.

O medo aí já não é mais não encontrar seu lugar no presente – mas encontrar seu lugar no futuro. A ansiedade aí já não vem de garantir sua sobrevivência imediata – mas de tomar as decisões acertadas para continuar sendo útil e demandado a seguir.

O que lhe arrepia os cabelos da nuca não são mais as questões do dia a dia, mas as decisões que você toma, as escolhas que você faz – e que vão definir como será o seu futuro.

A angústia vem de buscar não envelhecer profissionalmente, não morrer em vida, não ser compulsoriamente aposentado pela própria desconexão com os novos tempos. Sua preocupação passa a ser a manutenção da ponte entre os talentos e competências que você tem para vender com aquilo que as pessoas e empresas estão dispostas a comprar.

Perceba: o medo estará sempre lá. (A menos que você esteja cego. Ou que já tenha morrido profissionalmente.) Então aprenda a conviver com ele. Não tenha medo do medo. Ele pode ser um ótimo aliado. Desde que sirva para lhe levar adiante – e não para lhe paralisar.

 

Falo mais sobre sentir medo e sobre como lidar com ele no Podcast Retrato, do Projeto Draft. Clica e ouve.

 

Adriano Silva é jornalista e empreendedor, CEO & Founder da The Factory e Publisher do Projeto Draft. Autor de nove livros, entre eles a série O Executivo SinceroTreze Meses Dentro da TV e A República dos Editores. Foi Diretor de Redação da Superinteressante e Chefe de Redação do Fantástico, na TV Globo.

Sobre o Autor

Jornalista e empreendedor, CEO & Founder da The Factory e Publisher do Projeto Draft. Autor de nove livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores. Foi Diretor de Redação da Superinteressante e Chefe de Redação do Fantástico.