Topo

Histórico

Adriano Silva

Ode à mulher de 50 anos

Adriano Silva

04/04/2019 09h51

Permita-me vir a este proscênio e afirmar de fronte alta: uma mulher é muito mais mulher aos 50 anos.

Eis o que quero dizer: tome a mesma moça aos 20 ou aos 30 anos. E depois a tome novamente aos 50. No segundo momento, ela será talvez umas cinco ou seis vezes mais mulher.

Aos 50, ela será mais interessante, mais suave e mais sedutora, mais completa e mais irresistível, do que quando jovenzinha. Talvez ela perca um pouco daquela pele esticada, daquele cetim virgem, imaculado, ainda cheirando a tinta. E daí? Sua pele estará mais macia. Terá mais curvas, para guardar em si as sinuosidades do tempo. Ela terá mais histórias impressas em seu corpo. Um convite ao desvelo.

E isso não significa que ela terá perdido o frescor juvenil. Porque o viço não está no colágeno da pele ou dos cabelos – o viço está no brilho do olhar, na intensidade do sorriso, na temperatura e na delicadeza do toque das mãos.

Aos 50, a mulher terá perdido o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, nem de si própria, nem de um homem ou de outra mulher. Ela talvez não possa mais sustentar um certo ar ingênuo, nem aquela sensual inocência de que fingia ser feita quando era jovenzinha. Tanto melhor.

Nada é mais sexy do que uma mulher experiente caminhando com ritmo próprio pela vida, num estágio mais avançado da curva de autoconhecimento. É encantador topar com uma mulher dona de si, que não deve nada a ninguém (nem sequer a si mesma), e que só vai na boa, quando quer, e aí vai fundo.

Aos 50, a mulher se conhece mais e é por isso muito mais autêntica, centrada, certeira – no modo como trata a si mesma e no modo como trata ao seu homem ou a sua mulher.

Aos 50, a mulher tem uma relação mais saudável com seu corpo. Tem orgulho da sua vulva, da sua vagina, das suas carnes sinuosas, do seu cheiro cítrico e tépido e úmido. Ela não briga mais com nada disso. Tampouco briga com a tradição torta que gerou esses e outros tantos tabus que ela soube descartar ao longo da vida.

Aos 50, na verdade, ela quer brigar o menos possível. (Ou então está decidida a escolher estrategicamente as brigas em que vai entrar.) Ela está muito mais interessada em absorver do mundo aquilo que lhe parecer justo e útil. E em ignorar aquilo que for feio e deprimente.

Aos 50, ela quer ser feliz o máximo que der. Porque o tempo adiante já não é infinito. Se o seu homem ou a sua mulher não gostarem dela do jeito que ela é, que vão procurar outra companhia. Uma mulher, aos 50, só quer quem a mereça.

Aos 50, uma mulher dominou a arte se vestir. Ela sabe valorizar as partes do corpo que lhes são pontos fortes e de tornar discretas aquelas que não interessa tanto mostrar. Melhora muito a qualidade da sua escolha de sapatos e acessórios, tecidos e decotes, cores e combinações. O mesmo vale para o uso de maquiagem e de cosméticos, dos cuidados com as unhas aos cortes e colorações de cabelos.

A mulher de 50 só vai na boa. Gasta mais porque tem mais dinheiro. Mas, sobretudo, gasta melhor. Tem gestos mais charmosos, posturas mais elegantes. É uma pessoa mais graciosa e temperada. Mais bem-humorada e (auto)irônica. A inteligência emocional de uma mulher, aos 50, não tem termo de comparação com o que ela podia aos 20 ou aos 30.

Aos 50, talvez ela tenha se tornado mãe. E já tenha se realizado nesse papel, se por ventura ela escolheu cumpri-lo. Ela talvez já esteja vivendo aquele interregno entre não ter mais filhos pequenos e já começar a prelibar a chegada futura dos netos. É uma fase mágica, em que ela começa a recuperar algumas prerrogativas de quem não tem mais crianças para cuidar – desde sair sexta à noite como se não houvesse amanhã até voltar a transar de improviso no sofá da sala, ou no chão da cozinha, sem o medo de que um pimpolho vá aparecer de repente por trás de uma porta.

Aos 50, ela está mais prática. Conhece os atalhos. Ela não é mais bobinha. (Se é que um dia o foi de verdade.) Carrega um olhar muito mais matador – quando interessa matar. E que finge indiferença com muito mais competência – quando interessa tergiversar. E que sabe repelir, quando é o caso de deixar claro que não é não.

Aos 50, ela estará menos inconstante. Saberá lidar melhor com as suas alterações de humor – e com as alterações de humor do seu ou da sua consorte.  Ela estará menos à mercê dos altos e baixos hormonais – curiosamente, no momento de encarar a menopausa, talvez o maior desafio hormonal da sua vida.

Jovenzinha, a mulher tem espinhas. Aos 50, ela terá pintas. Encantadoras, perfumadas trilhas de pintas sobre a sua tez aveludada. Jovenzinha, ela talvez ainda torcesse para ser escolhida. Aos 50, é ela quem escolhe. Jovenzinha, ela podia ter o hálito cansado de quando em vez. Aos 50, jamais.

Aos 50, ela aprendeu a se perfumar na quantidade certa. E com a fragrância exata para a sua pele, para a temperatura do dia, para os tons da roupa que está usando, e até mesmo para a pessoa que vai encontrar e para os assuntos que serão tratados.  A mulher de 50, muito mais do que aos 20 ou aos 30, cheira bem, tem um conjunto que dá gosto de olhar, que captura os sentidos, inebria, faz sonhar, dá fome.

Aos 50, a mulher é mais natural, mais chique, mais sábia, mais serena. Na mesma medida, menos ansiosa e menos estabanada. Mesmo seus dentes parecem mais claros. Seus lábios, mais reluzentes. Sua saliva, mais potável. Uma delícia.

Jovenzinha, talvez ela roesse unhas. E tivesse cutículas malcuidadas. Aos 50, ela constrói para si mãos plásticas, perfeitas, helênicas. Desenvolve um toque macio e quente, que sabe ser a um só tempo firme e suave.

Ocorre o mesmo com seus pés. Aos 50, os pés de uma mulher são tão apetitosos quanto uma tenra espiga de milho verde com manteiga derretida por cima. E são pés com uso. Que palmilharam o mundo. A gente olha para eles com o respeito, a gratidão e a empatia com que olha para veteranos bem-sucedidos.

Acontece alguma coisa também com os cílios da mulher de 50. No desenho das suas sobrancelhas. No seu jeito de olhar. Fica tudo mais uterino, mais luminoso, mais glamouroso, mais sexualmente arguto.

Aos 50, a mulher não faz mais experiências esdrúxulas. (Exceto quando é exatamente isso que deseja.) Então, quando ousa, no que quer que seja, ela costuma acertar em cheio. No jogo sexual, já testou muitas táticas. Já experimentou de tudo. Tem um arsenal de estratégias em seu cofre secreto. Quando dá o bote, é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro ou sua parceira sem que ele ou ela se sinta dominado.

Ao 50, a mulher mostra sua força na hora certa, de modo sutil. Não como uma exibição besta de poder – mas exatamente para resolver tudo a seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Assim, garante para si o que quer sem a necessidade de confrontos inúteis. Aos 50, ela exerce o soft power, o poder feminino, com a maior competência.

Aos 50, ela também brinca com a sua pretensa fragilidade como uma ferramenta lúdica de prazer – seu e do seu homem ou da sua mulher. Sabiamente, goza de todas as prerrogativas da condição feminina sem ter que engolir nenhum sapo. Acho que o tal "sagrado feminino" é isso. Um lugar tão bom, que vai lhe envolvendo de modo tão cálido, que, quando você percebe, já está lá dentro, cativo, e não quer sair dali nunca mais.

Se você anda preocupada porque não tem mais 20 ou 30 anos, porque percebeu que a sua juventude não durou ou não vai durar para sempre, ou se anda aflita porque está para completar 50 anos, ou triste porque já chegou a essa casa do tabuleiro, fique tranquila, relaxe, deixe de bobagem, desencane. Saiba que é precisamente aos 50 que você chegou lá, que você atingiu o seu próprio ápice e que o jogo tem tudo para ganhar as cores mais bacanas que ele jamais teve ou terá.

 

Adriano Silva é jornalista e empreendedor, CEO & Founder da The Factory e Publisher do Projeto Draft. Autor de nove livros, entre eles a série O Executivo SinceroTreze Meses Dentro da TV e A República dos Editores. Foi Diretor de Redação da Superinteressante e Chefe de Redação do Fantástico, na TV Globo.

Sobre o Autor

Jornalista e empreendedor, CEO & Founder da The Factory e Publisher do Projeto Draft. Autor de nove livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores. Foi Diretor de Redação da Superinteressante e Chefe de Redação do Fantástico.