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Adriano Silva

Como você lida com o dinheiro? Qual é o peso da grana em sua vida?

Adriano Silva

01/09/2019 13h47

Dinheiro é como um amante, um caso secreto que nutrimos vida afora: a gente pensa nele todo dia, de um jeito ou de outro, a gente sabe os prazeres que ele proporciona, e a falta que ele faz quando desaparece de nossas vidas. Mas raramente falamos dele. De modo geral, agimos como se ele não fosse importante, como se não fizesse parte dos nossos interesses.

Você pode ter nascido pobre, e ter passado tanta necessidade na vida que começou a acreditar que passar necessidade é a própria vida. Você perdeu o interesse por dinheiro exatamente por jamais podido tê-lo. Você abdicou do sonho de ter uma vida melhor, de ter um pouco mais de conforto. Você aceitou a pobreza em sua vida e é assim que leva a existência – sem dinheiro.

Você pode ter nascido pobre e a dura experiência da escassez, ou da falta pura e simples, pode ter batido em você de forma diferente: você pode ter eleito o dinheiro como o objetivo central em sua vida. Como Scarlet O'hara em O Vento Levou, você se agarrou às raízes secas em sua terra arrasada e jurou para si mesmo – "eu nunca mais vou passar fome".

Você pode ter nascido remediado, ter tido as coisas de que precisava, sem luxo e sem lixo, e talvez você tenha conseguido desenvolver uma relação mais equilibrada como  dinheiro, e talvez você consiga vê-lo como um item importante da vida, mas não como uma presença central ou superior, nada que lhe tire do eixo ou lhe gere insônia.

Ou você pode ter nascido em berço abastado, com abundância de recursos, sem jamais notar a presença do dinheiro – exatamente por jamais ter tido a chance de sofre com a sua ausência. O poder de compra era uma constante, era simplesmente normal viver assim, e você começou a acreditar que a afluência era a própria vida.

A sua origem, a sua construção como indivíduo, define muito da maneira como você lida com dinheiro. E a relação que temos com o dinheiro é uma das mais complicadas de administrar. E uma das que mais precisamos administrar bem, de modo saudável.

Mas, independente de onde você vem, é importante uma hora decidir soberanamente para onde você vai – inclusive na sua relação com o dinheiro.

O dinheiro pode representar um fim para você, a razão de tudo, o objetivo último de todas as coisas. Com um sentimento de vingança contra o mundo. Ou de direito familiar adquirido.

Ou você pode ver o dinheiro como um meio para construir coisas legais – uma casa, uma família, uma empresa, uma viagem inesquecível. O dinheiro vira um ingrediente – e não o prato em si.

O dinheiro pode se apossar de você de modo indigno. Você pode se tornar um escravo do dinheiro. Ele pode contaminar todas as lentes que você usa para enxergar os outros, o mundo ao redor, a si mesmo, a própria vida.

Você pode também odiar secretamente o dinheiro, ter de lidar com ele, ter de submeter à sua lógica de compra e venda, de ganhar e gastar. Você com frequência sonha em morar no campo, vivendo da terra, num esconderijo em que só precise do trabalho, e não da grana, num ideal meio hippie, meio comunista.

Você pode ser um consumidor inveterado, um gastador de dinheiro, um torrador de recursos. Uma cigarra que não pode ver dinheiro no bolso – gasta tudo o que pode, e mais um pouco, em busca de satisfação imediata. (Ainda que a insatisfação que gera esse tipo de comportamento, sempre irresponsável e com frequência compulsivo, não possa ser resolvida esfregando o cartão de crédito por aí.)

Ou você pode ser um poupador maluco, um acumulador de dinheiro estoico, que vive uma vida espartana, supercontrolada, sem jamais se permitir um dos tantos prazeres, grandes e pequenos, que o dinheiro pode comprar, para chegar ao final da vida cheio de grana e vazio de experiências, para finalmente morrer sem ter vivido.

Há muitos jeitos de lidar com o dinheiro. Alguns melhores do que outros. Uns mais balanceados, outros completamente tortos. Escolha um que combine com você. E seja feliz.

Nesse caso, a pior decisão é não tomar nenhuma, não refletir a respeito e deixar a vida – e o dinheiro – lhe levarem. (Às vezes eles lhe levam para lugares aonde você não gostaria de ir.)

 

Adriano Silva é jornalista e empreendedor, CEO & Founder da The Factory e Publisher do Projeto Draft e do Draft Canada. Autor de nove livros, entre eles a série O Executivo SinceroTreze Meses Dentro da TV e A República dos Editores. Foi Diretor de Redação da Superinteressante e Chefe de Redação do Fantástico, na TV Globo.

Sobre o Autor

Jornalista e empreendedor, CEO & Founder da The Factory e Publisher do Projeto Draft. Autor de nove livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores. Foi Diretor de Redação da Superinteressante e Chefe de Redação do Fantástico.